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Políticas públicas para as mulheres, uma urgente e necessária pauta na pandemia

Políticas públicas para as mulheres

A pandemia do novo coronavírus trouxe impactos gigantescos para a vida das mulheres. Ficar em casa para muitas pessoas foi motivo de alívio, de descanso e desaceleração. Mas para a maioria das mulheres, significou uma carga triplicada de trabalho. Eu me encaixo no time daquelas que puderam desacelerar um pouco. Como tenho uma agenda extensa por conta do trabalho na Secretaria Nacional de Mulheres do PT, acabo viajando muito pelo Brasil inteiro. Minha rotina é não ter rotina, e nesse aspecto a quarentena veio dar uma parada obrigatória em toda a correria que vivo. Mas claro, as demandas de casa acabaram trazendo muito impacto. Já que nós mulheres temos um inconsciente que às vezes nos instiga a achar que daremos conta de tudo. 

A realidade é que gerenciar um lar e lidar com as tarefas de casa é um trabalho árduo e bastante cansativo. Nos primeiros três meses, quando tudo ainda estava muito incerto, dava para conciliar os afazeres domésticos com o trabalho. Mas quando partimos de fato para o virtual, nas chamadas de vídeo e tantas outras maneiras, as coisas foram ficando mais puxadas. Surgiram muitos eventos online, acabei fazendo mais de 150 lives e a impressão que tenho é que trabalhei muito mais do que no presencial, não só na minha função pública, mas naquela função privada de dentro de casa que tanto se evita falar. 

Um dos efeitos da pandemia na vida das mulheres, com certeza vem da sobrecarga dos trabalhos. Não queremos apenas ocupar o lugar do cuidado, precisamos estar na frente das agendas públicas da sociedade, ocupando cargos e desempenhando a nossa profissão, que é aquilo que nos motiva. Hoje as mulheres estão cada vez mais inseridas nos espaços públicos e somos nós que em maioria desempenhamos com maestria e compromisso, aquilo que nos dispusemos a exercer. Mas o problema da sobrecarga é que, além da jornada de trabalho, quando voltamos para casa, enfrentamos o segundo turno dessa jornada, com os filhos, com a casa, administrando o lar e a família. 

A divisão dos trabalhos domésticos é quase inexistente. Ainda que exista parceria com o companheiro, a sobrecarga mental continua sendo da mulher, que precisa pensar e planejar todas as demandas do lar. Então, além de física, vemos que essa sobrecarga é psicológica também. Observamos os muitos casos de problemas relacionados à saúde mental da mulher. Depressão, ansiedade, burnout, síndromes de pânico… doenças oriundas do estresse e do excesso de produtividade. Para aquelas que assim como eu, precisaram lidar com o home office atrelado às tarefas domésticas, foi perceptível o nível de estresse na conciliação dessas duas coisas.

Vivemos um período de insegurança. Tivemos que lidar com o medo de adoecer, de perder pessoas queridas… Mas também existiram outros impactos na saúde mental da mulher, como o medo da instabilidade, da perda do emprego e da violência doméstica. Sabemos que durante a pandemia o número de denúncias de violência contra a mulher aumentou bastante. As mulheres estando em casa, naturalmente ocuparam por mais tempo o mesmo espaço que seu agressor. Para além da estatística, precisamos considerar que muitos casos de violência foram subnotificados, pois como fazer a denúncia se a mulher está o tempo todo na convivência com o agressor?

Por isso, acredito que a luta feminista que vem como fruto da pandemia, é a luta por políticas públicas para as mulheres. A falta de uma estrutura social de acolhimento e suporte, encurrala mulheres junto de seus agressores e as deixam sem alternativas. É imprescindível o fortalecimento tanto das políticas públicas, quanto dos espaços sociais e delegacias da mulher. Infelizmente não é a realidade que estamos vivendo hoje, pelo contrário, estamos vendo a destruição do pouco que já havíamos conquistado. Precisamos mais do que nunca, estarmos unidas e dando suporte umas às outras, pois somente desta forma conseguiremos ocupar os lugares que antes nos eram negados.

Muito mais do que sobreviver e desempenhar atividades relacionadas ao cuidado, principalmente o doméstico, queremos direitos. Todo o caos gerado pela pandemia, mostrou que somos nós quem precisamos construir juntas as políticas que queremos para a nossa luta. Empregos, creches, assistência social, psicológica e jurídica. Tudo aquilo que nos foi negado no passado e que hoje ainda nos falta, precisa voltar a ser pautado para nós. Quando defendo a participação feminina na política, é para que a gente comece a ocupar esses espaços de poder e finalmente construir alternativas de apoio das quais realmente precisamos.

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